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Curso de Formação de Treinadores  

Módulo 1

ETOLOGIA E BEHAVIORISMO

COMPORTAMENTO

 

Psicologia é a ciência que estuda o comportamento dos seres vivos, suas interações com o meio ambiente e os processos mentais do ser humano. Preocupando-se principalmente em pesquisar e/ou estudar a diferença e semelhanças entre as espécies.

 

 

Behavior , palavra de origem inglesa.  

Behaviorism, ou behaviorismo, é uma linha de estudos do comportamento com algumas variáveis.

 

Behaviorismo Metodológico:

Essa linha de raciocínio tem como “pai” o psicólogo americano John Watson.

 

O behaviorismo metodológico é uma área da psicologia que tem o comportamento como objeto de estudo. A palavra tem origem no termo behavior que, em inglês, significa comportamento ou conduta.

 

Esta teoria teve início em 1913, com um manifesto criado pelo psicólogo americano John B. Watson – “A Psicologia como um comportamentista a vê”. Nele, o autor defende que a psicologia não deveria estudar processos internos da mente, mas sim o comportamento, pois este é visível e, portanto, passível de observação por uma ciência positivista. Nesta época vigorava o modelo behaviorista de S-R, ou seja, de resposta a um estímulo, motor gerador do comportamento humano.

 

O behaviorismo surgiu como oposição ao funcionalismo e estruturalismo, e é uma das três principais correntes da psicologia, juntamente com a psicologia da forma (Gestalt) e psicologia analítica (psicanálise).

 

O behaviorismo contempla o comportamento como uma forma funcional e reacional de organismos vivos. Esta corrente psicológica não aceita qualquer relação com o transcendental, com a introspecção e aspectos filosóficos, mas pretende estudar comportamentos objetivos que podem ser observados.

 

De acordo com Watson, o estudo do meio que envolve um indivíduo possibilita a previsão e o controle do comportamento humano/animal.

 

O Reflexo Inato:

 

Os reflexos inatos são relações entre estímulos e respostas que ocorrem sem um aprendizado anterior, ou seja, são é uma condição que não aprendemos. São reflexos do organismo.

Todos os animais e humanos tem um repertório comportamental não aprendido, que agem para sobrevivência do organismo. Alguns exemplos que podemos citar: 

quando uma luz incide sobre a pupila do olho, esta se contrai; quando o dia está quente você começa a transpirar; 

um susto após um barulho alto.....

Todas essas relações citadas acima são exemplos de reflexos inatos.

 

Para o aluno entender melhor o que é um reflexo, precisamos compreender que há uma relação entre um estímulo e uma resposta. 

Estímulo é uma mudança que ocorre no meio ambiente e consequentemente produz ou elicia uma mudança no organismo exposto a tal estímulo, resposta.

 

Eliciadores são todos os estímulos que vão provocar uma resposta a um organismo todas as vezes que for apresentado, ou seja, ele é que produz aquele determinado comportamento em um organismo. 

Exemplos: calor elicia transpirar, comida elicia salivar, ar frio elicia tremer....

 

Contingências ou Relações Reflexas:

 

São as relações de dependências entre eventos ambientais e eventos comportamentais, tipo: “se”.... “então”... ou seja, a condição de dependência entre eventos. 

Podemos dar alguns exemplos: 

Se eu estudo antes da prova, eu tiro uma boa nota; 

Se o cão senta pra esperar na porta, o dono deixa ele ir ao jardim.

LEIS DO REFLEXO:

 

Existem 3 tipos de “lei” que são de suma importância para o aluno compreender, vamos a elas:

1-   Intensidade – Magnitude

Estabelece que a intensidade do estímulo apresentado é diretamente proporcional à magnitude da resposta, ou seja, quanto maior for a intensidade de um estimulo, maior será a magnitude da resposta. 

Ex: quanto mais quente o dia, maior será a transpiração; quanto maior o choque no colar maior será o latido.

    2 - Lei do Limiar

Para todo reflexo, existe uma intensidade mínima para eliciar uma resposta. 

Ex: o cão só executa o comportamento quando a pressão na guia alcança uma certa intensidade. Essa intensidade mínima é uma questão muito particular de cada indivíduo, pois cada organismo reage de um jeito a intensidade do estímulo, ou seja cada um tem um limiar específico.

    3 - Lei da Latência 

Corresponde ao intervalo entre dois eventos, no caso, entre a apresentação do estímulo e a ocorrência da resposta.

Esta lei diz que quanto maior for a intensidade do estímulo apresentado, menor será o intervalo para a apresentação da resposta. Nesse caso podemos afirmar que a intensidade do estímulo é inversamente proporcional a latência da resposta. 

Ex: quanto maior for um barulho mais rápido virá a resposta do susto.

Outra relação direta que ocorre na lei da latência é o tempo de duração da resposta, ou seja, quanto maior a intensidade do estímulo, maior será a duração da resposta. Se o calor for mais intenso, mais tempo iremos transpirar (resposta).

Obs: Vimos acima que a intensidade do estímulo, tem implicações diretas na magnitude, no intervalo, na velocidade e na duração de uma resposta. Mas as variações não ocorreram de maneira proporcional o tempo todo progressivamente. Haverá um limite ou um ponto que aumentos na intensidade do estímulo não serão acompanhados de aumentos correspondentes na magnitude, na duração da resposta e nem na velocidade que ela ocorre.

 

Eliciações sucessivas:

 

O que é eliciações sucessivas? É a apresentação sucessiva de um determinado estímulo, com a mesma intensidade, que provoca uma determinada resposta várias vezes num período curto de tempo. 

Existem 2 tipos de fenômenos que podem ocorrer. São eles:

 

Habituação da resposta:

As respostas serão emitidas com magnitudes cada vez menores, e latência cada vez maiores. Ou seja, o organismo se habitua aquele determinado estímulo. 

 

Sensibilização ou Potenciação da resposta:

Nesse caso ocorre justamente o contrário, o sujeito fica mais sensível ao estímulo e potencializa mais a resposta, ou seja, ocorre magnitudes da resposta cada vez maiores e latência cada vez menores.

Obs: Esses fenômenos também são observados nas respostas emocionais (raiva, excitação sexual, tristeza, medo, alegria...).

 

Behaviorismo radical de Skinner

 

O behaviorismo radical, conceito proposto pelo psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner, era oposto ao behaviorismo de Watson. Segundo Skinner, o behaviorismo radical é a filosofia da ciência do comportamento humano, onde o meio ambiente é o responsável pelo comportamento humano. Esta vertente do behaviorismo teve grande popularidade no Brasil e nos Estados Unidos.

 

Skinner era claramente contra a utilização de elementos não observáveis para explicar a conduta humana. Assim, os aspectos cognitivos não são considerados, porque o ser humano é visto como um ser homogêneo, e não como um ser que é composto pelo corpo e mente.

 

O behaviorismo radical contempla os estímulos dados aos indivíduos pelo meio ambiente. De acordo com Skinner, esses meios eram conhecidos como punição, reforço positivo e reforço negativo.

Vamos estudá-los na teoria e prática mais a frente.

 

 

ESTÍMULOS E RESPOSTAS

 

Através da análise de comportamento em relação ao meio em que se vive, surgiram os conceitos de estímulos e respostas.

 

ESTÍMULO: Alguma modificação no meio ambiente que provoca reações diversas nos seres vivos, demonstrando uma determinada resposta. Exemplo: sons, movimentos....

RESPOSTA: É a modificação do comportamento, em decorrência ao estímulo. Todo estímulo vai causar algum tipo de resposta. Exemplo: o cão olhar, abanar a cauda, ficar atento...

 

TIPOS DE ESTÍMULOS

 

Todo condicionamento se realiza através de estímulos, que resultam em determinadas respostas. Esses estímulos serão programados para a obtenção de respostas pré-determinadas.

Os estímulos podem ser:

 

 

ESTÍMULOS POSITIVOS: 

São estímulos que produzem sensações agradavéis e provocam o desejo que se repitam.

 

ESTÍMULOS NEGATIVOS:

São estímulos que produzem sensações desagradavéis e provocam o desejo de que não se repitam.

 

ESTÍMULOS NEUTROS:

São estímulos que por não estarem associados a nenhum outro estímulo positivo ou negativo, quando apresentados, não produzem a resposta desejada.

 

EXEMPLOS DE ESTÍMULOS POSITIVOS

                                                                                      

Estímulos táteis: Resume-se a toques físicos que dão sensação de prazer como: afagos, carinhos, tapinhas.....

 

Estímulos gustativos: São estímulos relacionados a sobrevivência, como por exemplo , petiscos variados ou a própria refeição.

 

Estímulos olfativos:  São odores de alimentos, feromônios de cio, urina, fezes, captados pelo sistema olfativo.

 

Estímulos auditivos: Todo tipo de som ligado a algo agradável, como o som do carro do dono se aproximando, o som do armário de ração se abrindo... 

 

Estímulos visuais: A visão do figurante, a aproximação do treinador, seu brinquedo favorito...

 

Estímulos relacionais: Passeios, brincadeiras, liberação...

 

 

EXEMPLOS DE ESTÍMULOS NEGATIVOS

 

Estímulos táteis: puxões na guia, choque, forçamentos com toques...

 

Estímulos gustativos: Sabores desagradáveis para o cão, pimenta, don’t touch, spray amargo....

 

Estímulos olfativos: Álcool, éter, amônia..

 

Estímulos auditivos: Qualquer tipo de som que cause incômodo ao cão. Ex: trovão, estampidos... 

 

Estímulos relacionais: Rejeição, privação...

ESTÍMULOS REFORÇADORES

 

São estímulos que foram relacionados ao reforço através da associação dos dois (estímulo = reforço), que pode ser positivo ou negativo. 

Eles podem ser usados como ferramenta no trabalho de aprendizado como forma de abreviar a resposta que se quer alcançar. Dessa forma, com a apresentação do estímulo reforçador, a resposta é mais exata e mais rápida.

ETOLOGIA

 

Em zoologia, a Etologia (do grego: ἦθος ethos, "hábito" ou "costumeiro" e -λογία -logia, "estudo") é a especialidade da biologia que estuda o comportamento animal. Está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, sob influência da Teoria da Evolução, tendo como uma de suas preocupações básicas a evolução do comportamento através do processo de seleção natural. Segundo Darwin, cada espécie é dotada de seu próprio repertório peculiar de padrões de comportamento, da mesma forma que é dotada de suas próprias peculiaridades anatômicas. Os etólogos estudam esses padrões de comportamento específicos das espécies, fazendo-o preferencialmente no ambiente natural, uma vez que acreditam que detalhes importantes do comportamento só podem ser observados durante o contato estreito e continuado com espécies particulares que se encontram livres no seu ambiente. O estudo da conduta ou etologia tornou-se uma importante ciência interdisciplinar que procura, mais ou menos, interligar a fisiologia, a ecologia e a psicologia.

Citei a etologia, por que dentro do processo de aprendizado, eu acredito que todo o esquema de treinamento deve ser mimetizado, ou seja, as condutas que estão sendo treinadas devem ter um significado etológico para o animal. Pois eu acredito que o animal terá uma facilidade em aprender já que o comportamento estará intrinsecamente ligado ao seu “HD” interno.

No meu sistema de treinamento, todo processo tem um “porque” dentro de uma visão etológica, ou seja, a maioria do formato do treino será similar ao que “aconteceria” na natureza.

Módulo 2

GRUPOS SOCIAIS E HIERARQUIA

GRUPOS HIERÁRQUICOS

 

HIERARQUIA ALFA: Aqui pode-se agrupar os exemplares com muito caráter e temperamento, dotados especialmente para lutar e conseguir a liderança da matilha, manter a harmonia do grupo, guiar e projetar a caça, encarregando-se também das agressões mortais.

 

HIERARQUIA BETA: A esta categoria pertecem exemplares muito parecidos aos anteriores, ideais para constituir-se líderes na falta destes, a quem respeitam. Em sua vez como líderes alternativos dominam o restante da matilha. Geralmente não são férteis.

 

HIERARQUIA ÔMEGA E Y: São os serventes da matilha. Estes são sujeitos muito submissos, débeis de caráter e temperamento, não tendo aspirações de nenhum tipo, evitando a luta direta. Por natureza não estão dotados para viver em estado selvagem e geralmente morrem rapidamente, tão pouco são férteis.

 

 

ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL  

 

O cão vive em um espaço coletivo, organizado em volta de uma zona central onde vivem os machos e as fêmeas dominantes com os filhotes. Os outros animais se distribuem em porções do território, organizados em círculos concêntricos, sendo que os hierarquicamente inferiores (machos adolescentes) ficam afastados do centro.

Para formar essas divisões de espaço, não é necessária uma grande área. Essa organização pode ser feita em alguns metros quadrados, porque o lugar onde os dominantes descansam é que marca o centro do território.

 

 

REFEIÇÃO

 

O comportamento do cão durante a refeição é complexo, pois é nesse momento que as regras da matilha são mais evidentes. A alimentação não tem por uma única função levar os nutrientes necessários ao animal. Ela também permite, por meio de rituais, garantir a coesão do grupo e relembrar a cada um a sua posição hierárquica em relação a matilha.

Os animais não se servem de acordo com a fome, e nem por ordem de chegada. São os machos dominantes que tem o privilégio de começar as refeições. Em algumas ocasiões eles toleram as fêmeas dominantes. O restante da matilha tem que esperar os dominantes se saciarem para disputarem a carcaça.

Nesse sistema há uma grande ostentação: o importante é ser visto comendo. Os dominantes comem lentamente. Se os dominados se afastam ou param de olhar, os dominantes param de comer e só recomeçam quando os dominados voltam a atenção pra eles. Ao chegar a vez dos dominados, eles comem freneticamente e se mostram agressivos durante toda a refeição. Em compensação, embora os dominantes sejam hostis no início da refeição para controlar os subordinados, logo depois eles toleram a aproximação lentamente, adotando atitudes conhecidas como “posturas de apaziguamento”. O comportamento alimentar dos dominantes é, portanto, caracterizado pela prioridade de acesso a comida, pela lentidão na ingestão e pela necessidade de serem observados pelos subordinados.

 

 

A APRENDIZAGEM DA HIERARQUIA

 

 A socialização é igualmente um período de aprendizagem de hierarquia. O filhote vai aprender a controlar as próprias vontades em função das regras em vigor na matilha.

A refeição é a primeira situação em que ele aprende esse controle. Até a idade de 2 meses, quando a fome torturava o filhote, só precisava procurar a mãe e conseguir pegar uma das tetas.

Quando começa a participar das refeições dos adultos, o filhote aprende que deve esperar os dominantes comerem para poder se aproximar. A aquisição desse tipo de controle (inibição social) é indispensável para que o futuro adulto seja um cão perfeitamente  equilibrado.

Do mesmo modo o filhote vai aprender a controlar a força da mandíbula e o uso dos dentes. Isso feito por meio de brincadeiras, por volta da 5º semana de vida.

Quando um filhote pega o outro com um pouco mais de força, este último começa a ganir alto e se deita de costas. O filhote então aprende a controlar a pressão dos maxilares e a interromper a agressão, nesse caso involuntária, quando o outro se deita de costas (postura de submissão).

A mãe também participa dessa aprendizagem ao reprimir as mordidas muito fortes: ela pega o filhote pela pele do pescoço, e depois de sacudi-lo, deixa-o no chão. Mas ela só solta realmente quando o filhote assume uma postura de submissão.

A brincadeira é sempre pedagógica, de forma que os filhotes aprendem as regras de vida em grupo e os outros rituais de comunicação.

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